quinta-feira, março 23, 2006

X

Ainda esta semana deparei-me com um artigo num jornal deveras alarmante. A
sociedade actual descobriu que existe um novo "vírus" muito perigoso que
está aos poucos a corromper e modificar hábitos sociais bastante
enrraizados. Chamavam-lhe "O complexo da falta de felicidade". Parece que
nos dias de hoje os animais racionais deste planeta (tema para meia dúzia
de dissertações) estão a alterar o seu comportamento diário com o simples
facto de que se lembraram que querem ser felizes...Pior do que isso, como
qualquer "doença" do foro psicológico (leia-se da tola), cada vez que se
mentalizam que algo não está correcto, a doença agrava-se mais, levando
pessoas a abandonar vidas de abundâncias e de sucesso por uma busca
utópica de encontros transcedentais (como a andropausa, cada vez que
pensamos nisso menos ele levanta...). Existe um exército infinito de
psicanalistas a procurar causas e soluções "hollyhoodescas" para resolver
este caos nos nossos dias...

Entre as causas implícitas neste problema conta-se a quebra de poder da
religião na nossa sociadade, ou seja deixamo-nos de voltar para Deus
(qualquer que ele seja) e o procurar uma desculpa e um culpado para todas
as nossas frustrações e fracassos, levando-nos a deparar com um problema
que temos entre mãos e TEMOS que o resolver. Acabou o "estava escrito lá
em cima" para o que vou fazer para resolver o assunto. Eu e o meu
umbigo...

Poderá tambêm ser uma nova geração que dúvida e questiona tudo, mesmo as
regras impostas por uma sociadade amarrada a conceitos pré-establecidos e
cujo control começa a escapar das mão dos poderes regentes. Será a idade
dos porquês a transformar-se na era dos porque não? Será a ambição
desmesurada sempre alimentada por exemplos fictícios que entram nas nossas
casas todos os dias através de um mundo fictício televisivo? Será um
existencialismo exacerbado elevado ao potencial logaritmico do possuir e
não ter?

Outra das opções que se apresenta é simplesmente o sindrome ter sido
criado por expeculações inexistentes, e ter sido alimentado por uma
procura desenfreada de conhecimento. O facto de a qualidade de vida e o
nível de vida ter aumentado, conceitos quanto a mim bastante ambíguos,
eleva-nos para a redefenição de novos conceitos talvez confusos e
confundidos com a procura de felicidade. Ser feliz hoje em dia não é
possuir um bom emprego, ter uma estável relação amorosa e condição
financeira favorável. Ou sempre foi e sempre o será?

Qualquer que seja a explicação que cada um encontre, ou a forma de vida
feliz que cada um molde, será mais importante no existencialismo salientar
que o que somos, de onde viemos e para onde vamos existe á milhares de
anos. Embora as dores dos outros sempre nos parecem mais pequenas, é
verdade que há uma infinidade de obras publicadas sobre o assunto ( leiam
por exemplo Soren Kiekegaard um dos primeiros existencialistas
conhecidos1) e o conceito não é novo mas sim transformado e adaptado aos
nossos dias.

A felicidade existe, vê-se estampada nos rostos que sorriem. Talvez seja
momentânea e o erro será pensar que a devemos tornar prepétua. Talvez
surja fugidia num orgasmo trascedental, num passeio de barco pela
plenitude oceânica ou simplesmente num jantar com os amigos nos raros
momentos de lazer. Talvez seja como uma droga que por momentos nos faz
radiantes e esqueçer todos os problemas passados 10 segundos atrás. No
entanto a procura continua para que sejam cada vez mais frequentes esses
segundos de felicidade. De vez em quando caímos no erro de reflectir sobre
o porquê deles acontecer e depois marterizamo-nos com o facto de não os
termos aproveitado ao máximo.

Se dizemos que não somos felizes é porque sabemos o que é ser feliz!
Existe um termo de comparação? Então lutem por ele...


Paulo Jorge Rua
Colónia, Amsterdão e Gotemburgo, 11 de Março de 2002.

Sem comentários: